domingo, 1 de agosto de 2010

COLEÇÃO DE MUNDOS

Foto de Rodrigo Sena

No dia primeiro de agosto de 1843 entrou em circulação o “Olho-de-boi”, primeiro selo a velar as correspondências no Brasil, um avanço no serviço postal. Antes dele, as cartas eram abertas e pagas pelos destinatários e as agências do Correio colecionavam casos em que as cartas eram devolvidas por falta de pagamento. Com o passar do tempo, aqueles pequenos papéis estampados despertaram o interesse dos colecionadores no mundo inteiro. Aqui no Brasil, os filatelistas – como são chamados os colecionadores de selo – chegaram a criar associações para ampliarem as suas coleções. Mas amanhã, data onde é comemorado o dia nacional do selo, restam poucos colecionadores para contar esta história.

Amanhã completam 167 anos que o primeiro selo entrou em circulação no BrasilEm Natal, um dos que ainda permanece na busca por novas estampas é Francisco César Barbosa. Ele conta como surgiu o seu interesse por selos, na década de 1970. Antes de embarcar nesta viagem, César fala que os selos perderam o espaço no cotidiano das pessoas a partir do avanço das novas tecnologias de comunicação. “Os selos trazem muitas informações implícitas, mas com a internet, os jovens preferem buscar as respostas no Google”, disse César.



Exibindo parte de sua coleção, compreendida por mais de dez mil selos, César falou que um erro cometido pelos aspirantes à filatelia é a falta de foco na composição da coleção. Ele mesmo cometeu este erro. No começo, ficou interessado por todos os tipos de selo, chegando a comprar todos os expedidos pelo Correio brasileiro nos anos de 1977, 1978 e 1979. Mas a primeira lição ele aprendeu com o jornalista José Mussolini Fernandes, um dos funcionários mais antigos deste jornal. Ao lado do Professor Elmo Pignataro e do antropólogo Tom O. Miller, Mussolini ficou conhecido como o “Papa da filatelia” no Rio Grande do Norte.

O grupo de amigos fazia parte do Clube Filatélico de Natal, que ainda hoje existe, mas que está sem agenda de atividades. No clube e na companhia de Elmo, Tom Miller e Mussolini, César entendeu que para ser um bom colecionador era preciso definir o seu interesse. Foi então que decidiu colecionar selos de países árabes e de seus visinhos. César não sabe justificar a decisão, apenas disse que achava os selos bonitos.

Munido de ferramentas indispensáveis para um filatelista: caixa para guardar selos avulsos, um classificador (espécie de biblioteca de selos), um catálogo internacional para acompanhar os lançamentos, uma lupa, um filigranoscópio (instrumento semelhante a uma caixa rasa de cor preta usada, para analisar os selos), uma pinça e um odontômetro (que mede os dentes do selo), César começou a compor sua coleção.

Os primeiros selos adquiridos foram os do Egito, do Iraque e do Afeganistão. Depois César ampliou a coleção, abarcando a Turquia, o Paquistão e a Índia. O filatelista chegou a colecionar selos de 26 países, mas atualmente ele se detém ao Marrocos, à Tunísia, ao Egito, ao Sudão, à Palestina e à Turquia – todos predominantemente mulçumanos.




Selando amizades

Para aumentar a coleção de selos postais, um filatelista precisa se corresponder com outros espalhados pelo mundo. Segundo César, existe um slogan que diz, que a filatelia é a união dos povos, onde a amizade começa pela união dos selos. E eles podem vir colados nos próprios envelopes das correspondências, ou dentro deles, caso se trate de um presente. O importante mesmo é que eles tenham cumprido a sua função, ou seja, selado uma carta.

O carimbo sobre o selo indica que ele teve um percurso, um destino. Mas nem só de destino vive a história, de imagens também. Como os selos estampam a realidade dos países em que são fabricados, seja ela ligada a um evento político, esportivo ou do cotidiano, eles acabam se tornando índices culturais.

Um bom exemplo disso está na coleção do Egito. Nas páginas de seu álbum, César mostra um selo egípcio contendo a imagem do antigo Rei Fuad, que por acaso era Filatelista. Após a morte de Fuad, a imagem de seu filho Farouk passou a estampar as correspondências daquele país. Devido à falta de compromisso político, o herdeiro foi derrubado do trono. E já que o país contava com uma grande quantidade de selos e estava contendo as despesas, imprimiu três tarjas pretas sobre a imagem de Farouk, como é possível constatar no álbum do colecionador. “A filatelia não permite matar um ditador, ele permanece documentado”, disse César.

Paralelo à coleção de selos, o filatelista também tem outra de envelopes de correspondências antigas, adquiridos em Leilão. Alguns deles importantes, como um postado na Suiça, em 1943 por Maria Wall, contendo um carimbo da milícia alemã, censurando o conteúdo da cata; e um marroquino de 1942, destinado a Princesa de Orleans e Bragança, que naquele tempo morava na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Por Maria Betânia Monteiro - repórter, para a Tribuna do Norte de 31.07.

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